Revolucionar o Jornalismo: O Impacto da Inteligência Artificial no Futuro das Notícias

As novas habilidades e os desafios para o ensino da próxima geração de jornalistas estiveram em discussão no ISCTE-IUL no dia 31 de março. O debate decorreu no âmbito do evento multiplicador final do projeto Newsreel 2.

O projeto Newsreel nasceu da necessidade de consolidar conhecimentos de inteligência artificial com o jornalismo. Na passada quinta-feira, dia 31 de março, teve lugar no Auditório B104 do ISCTE, a última edição do Newsreel 2 que contou com convidados que eram professores, jornalistas e data analytics.

O evento foi aberto com a apresentação do projeto pela Annamari Torbó, da Universidade de Pécs, na Hungria. Annamari falou sobre as skills essenciais para futuros jornalistas e como devem ser ensinados. Apresentou, também, os resultados do The Newsreel 2 Project

Nesta primeira pesquisa, desenvolveram nove syllabi (sumário com um programa de estudos) para os cursos universitários; um para cada projeto. Foi realizada uma escola de verão com a duração de 5 dias com um programa intensivo para estudantes de média e de jornalismo, onde o objetivo era encorajar os profissionais dos media a contribuir para a indústria para torná-la diversificada, equitativa, autêntica e divertida.

Para esse efeito, foi criado um “teaching guide” que inclui os conteúdos mais importantes para o ensino de ferramentas de IA (inteligência artificial), bem como para serem, posteriormente, utilizados por profissionais da área. 

A apresentação que se seguiu foi dirigida por Raluca Radu e por Antonia Matei, da Universidade de Bucareste, na Romênia. O tema do projeto era a Verificação e Desmascaramento numa situação de crise e focaram-se nas fake news e na desinformação. 

Ao comentarem sobre as fake news, utilizaram a expressão “tsunami de desinformação”, para descrever os tempos que vivemos na era digital.

Antonia e Raluca acrescentaram, ainda, que “as pessoas não estão a confiar nos jornalistas nem nos media e temos de mudar isso”. Falaram também da importância de procurar a fonte do conteúdo para percebermos se é fidedigno e verdadeiro.

O projeto “Debunking disinformation” pretende ajudar os estudantes a ter um conhecimento sólido sobre os mecanismos utilizados, a fim de alertar as pessoas acerca da desinformação de uma forma efetiva. “A necessidade de combater a desinformação é alta, mas a resistência, por vezes, é ainda maior”, afirmaram.

A terceira apresentação do dia teve como temática “melhorar a sensibilidade democrática num ambiente fragmentado dos meios de comunicação”. Tendo como oradora, Klara Smejkal, da Universidade de Masaryk, da República Checa. Colocou-se a questão de como consegue a media defender a democracia, se esta ainda pertence a milionários.

O objetivo do curso é discutir três pontos chave: O papel dos media numa sociedade democrática; o poder dos media numa sociedade democrática e a responsabilização dos meios de comunicação em sociedades democráticas.

Rita Glozer da Universidade de Pécs, na Hungria, falou sobre o desenvolvimento curricular e as experiências-piloto de ensino sobre a narração de histórias nos meios de comunicação social. No curso que apresentaram, salientaram que a aquisição de competências para o jornalismo de social media não está ainda incluído no jornalismo educacional.

Começaram por identificar e analisar as tendências mais relevantes sobre o jornalismo nas redes sociais e, depois, aplicaram os resultados dessa análise. Decidiram focar no Instagram pelo facto de o vídeo de storytelling ser popular nesta rede.

A quinta apresentação teve como tema “Ensino de cobertura estrangeira: Concentração nos desafios e inovações no terreno”. Quem veio falar deste tópico foi Dominik Speck, do Instituto para Jornalismo Internacional Erich Brost, na Alemanha. 

O investigador referiu que o curso é importante pelo facto de “o tema ser um clássico e suscitar sempre o interesse dos alunos”.

(Ana Pinto-Martinho e Miguel Crespo)

Ana Pinto-Martinho e Miguel Crespo, docentes do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, Portugal, fizeram uma apresentação sobre “Algoritmos, Jornalismo Robótico e Inteligência Artificial”. Para Ana e Miguel, era importante explicar a necessidade de estudar este tópico. “A inteligência artificial está nos trends e ainda não há muitos programas que insiram automação e IA no currículo”, referiram.

Após um coffee break, aconteceu o primeiro painel de discussão com perguntas e respostas. Como oradores estavam: Paulo Nuno Vicente, da ICNOVA/NOVA Media Lab, da Universidade NOVA de Lisboa; Luís António Santos do CECS, da Universidade do Minho; Ana Pinto-Martinho do Iscte e, como moderador da discussão, Gustavo Cardoso, que também pertence ao Iscte.

O tema deste “Perguntas e Respostas” era “Ensino da Inteligência Artificial no Jornalismo: Desafios”. Começou por se debater como a Inteligência Artificial tem efeitos permanentes no jornalismo, bem como o seu problema ético. O que significa que temos de ter em consideração os riscos éticos e deontológicos, o que é o efeito permanente e as oportunidades e os riscos da sua utilização.

Foi discutido como o online é “apenas a presença parcial de Inteligência Artificial” e como as plataformas de rede influenciam e mudam o modo como o jornalismo funciona e a sua produção. Contudo, existem riscos na sua implementação. Por isso, existe a necessidade de ter ferramentas específicas para desenvolver uma nova mentalidade e uma regulamentação para a sua utilização.

A IA está a ser usada como um termo geral para sistemas que não são exatamente Inteligência Artificial, daí a necessidade de definir o que é realmente a IA.

Ao trazer este tema para o contexto universitário, o objetivo foi perceber o que não se deve fazer e como não o devemos substituir. Com isto, querem dizer que o mundo vai ser um desafio e os estudantes precisam de desenvolver um pensamento crítico. É preciso aprender com o passado, aprender com os erros e tirar partido disso para não voltar a repeti-los.

Atualmente muitos são os jornalistas que ainda têm uma má relação com as ferramentas web. Assim, existe uma necessidade de as redações arranjarem soluções rápidas para eventuais problemas. Vemos que, para as organizações jornalísticas é um desafio aplicar uma abordagem interdisciplinar.

A reflexão que fica após o debate, é que há determinados conhecimentos que não devemos perder, tal como, a memória da história de como tudo começou. Os estudantes têm de compreender onde é que as redes sociais começaram e como as pessoas as encararam.

Inteligência Artificial e Jornalismo: Ameaças e Oportunidades

(Nic Newman em conferência zoom)

A tarde iniciou-se com uma apresentação do jornalista e investigador do Instituto da Reuters, na Universidade de Oxford, Nic Newman, abordando a temática “Inteligência Artificial e Jornalismo: Ameaças e Oportunidades”, através da plataforma Zoom.

Newman afirmou que o jornalismo já passou por várias disrupções e que a chegada da Inteligência artificial é apenas mais uma.

Para o jornalista, nos últimos anos as empresas de media estão a utilizar esta tecnologia em cinco ramos diferentes:

  • Recomendações automáticas 
  • Usos comerciais 
  • Automatização das redações de notícias
  • Recolha de notícias
  • E o jornalismo robótico

O uso destes sistemas pelos jornalistas assenta numa base de páginas iniciais automatizadas e otimizadas para gerar o maior número de clicks e visibilidade, tradução de línguas e transcrição de linguagem para texto (Speech to text – AI transcription).

Nic refere que a utilização destas IA deve fazer-nos refletir sobre questões de direitos de autor. Será que estes sistemas têm direitos a eles? Colocam-se também questões de transparência. O que é produzido por nós? O que é produzido por IA?

Com a chegada destes sistemas, chegam também riscos, tais como a criação e a disseminação de desinformação, a ameaça da iliteracia digital, e o facto de não existir neste momento qualquer tipo de regulação sobre as IA.

O jornalista sublinha que é importante a sociedade perceber que também estas IA estão a cometer erros, e dá como exemplo o ChatGPT, que está programado para responder sempre às questões que lhe são colocadas, mesmo que implique dar respostas erradas.

Newman encerra este painel apontando que, ao mesmo tempo, estas IA permitem-nos focar nas tarefas que não podem ser automatizadas, como por exemplo, a interação humana e a reportagem. Ele aponta que com o uso destes sistemas, o nosso trabalho se torna mais eficiente e que a nossa produção, edição, e criação de conteúdo se torna mais relevante e mais acessível à nossa audiência.

A otimização de tempo e a preguiça generalizada

Às 15h:45min o painel de discussão sobre “Inteligência artificial e jornalismo: práticas e desafios” contou com a participação de Alexandra Luís, jornalista da agência Lusa, Rui Barros, jornalista do jornal Público e João Tomé, analista de dados da CloudFlare. O painel foi moderado por Miguel Crespo, jornalista e docente do ISCTE.

Os participantes abordaram o uso de inteligência artificial nos media, desde programas de transcrição e legendagem até a utilização de Inteligência artificial para catalogar 15 mil contratos. Todos concordaram que as ferramentas de inteligência artificial são um auxílio ao jornalismo, mas Rui Barros alerta que pode ter o efeito preguiça generalizada na realização de tarefas e aprendizagem, pela facilidade em que as respostas são dadas pela IA. Além disso, todos os oradores enfatizaram a importância de verificar informações e manter a reputação do jornalismo como fonte confiável de informação.

O painel também debateu a ameaça do clickbait e das notícias em pequeno formato para o pensamento crítico. Em geral, os participantes concordaram que a IA pode ajudar o jornalismo a ser mais eficiente e a fornecer informações mais precisas, mas é preciso manter o rigor jornalístico e a ética para manter a reputação do meio.

(Miguel Crespo à esquerda; Alexandra Reis, no centro esquerda; Rui Barros no centro direita; João Tomé esquerda)

O evento não terminou sem que antes Ana Pinto-Martinho, docente do ISCTE, apresentasse uma breve sintetização dos conteúdos abordados no projeto e agradecesse à audiência pela sua presença e envolvimento no projeto. 

Assista à entrevista que Ana Pinto Martinho deu aos alunos da pós-graduação, onde falou sobre o evento Newsreel 2:

E, assim, chegou ao fim o projeto Newsreel 2. 
Se quiser saber mais informações sobre o projeto The Newsreel, clique no links em seguida:

Tiktok da pós-graduação: https://www.tiktok.com/@pgjornalismo?_t=8bA0wmb7f3b&_r=1 
Site do Newsreel: https://newsreel.pt/ 
Instagram do Newsreel:  https://www.instagram.com/thenewsreelproject/ 
Facebook do Newsreel: https://www.facebook.com/thenewsreelproject 

Por: Ana Rita Cunha, Carolina Piedade, Carolina Neves Carvalho, Francisca Gonçalves, Mateus Lino.

Posted by Carolina Piedade

Estudante da pós-graduação em jornalismo pelo ISCTE/Media Capital