Pedidos de ajuda alimentar aumentam em Portugal

A subida da inflação veio agravar a situação de muitas famílias portuguesas. O número de pedidos de ajuda alimentar tem vindo a aumentar. Um dos fatores é o salário baixo, que leva a população a viver em condições de vida precárias.

Numa altura em que o salário mínimo nacional é de 705€, as famílias portuguesas fazem contas ao dinheiro que sobra para adquirir bens essenciais. No entanto, perante as diversas despesas mensais em medicamentos, renda da casa juntamente com o aumento dos preços da água, da luz e dos alimentos, o montante disponível no final do mês acaba por não ser suficiente para cobrir todos os gastos, obrigando as famílias a ter de recorrer a ajudas externas a nível de bens alimentares.

Em Viana do Castelo os pedidos de ajuda têm aumentado desde a pandemia. Os responsáveis do Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora de Fátima afirmam, contudo, que em comparação com o ano passado, de 2021, o aumento não é significativo. As associações dizem ter sofrido um maior impacto relativamente às despesas, devido ao aumento dos pedidos de ajuda.

Associações têm mais pedidos do que durante a pandemia

Desde a pandemia da COVID-19, que as condições de vida dos portugueses têm vindo a decair, levando muitos a procurar ajuda externa. Rita Valadas, a atual Presidente da organização Cáritas Portuguesa, comenta que os pedidos de ajuda alimentar aumentaram significativamente após a pandemia e que “houve pessoas que deixaram de ter rendimento de todo”.

A ajuda vai chegando de todo o lado. Apesar das dificuldades económicas, a população continua a ajudar as associações contribuindo com alimentos e bens essenciais, bem como monetariamente.

Esta ajuda foi um suporte para muitas famílias durante os tempos críticos. E, mesmo perante uma crise económica, a possibilidade de voltar a trabalhar por já não estarem confinados em casa, levou a que muitas pessoas voltassem a ter rendimento e a conseguir ter forma de pagar as contas e os bens essenciais. “Agora as pessoas têm rendimento mas têm de geri-lo para satisfazer as necessidades básicas”, explica Rita Valadas.

Ajuda sem fronteiras: imigrantes também pedem auxílio

Portugal é um país multicultural e um bom anfitrião no que toca a acolher quem vem de fora. Em 2022, cerca de 700 mil pessoas que viviam em Portugal eram imigrantes. Este número tem crescido ao longo dos anos e, consequentemente, os pedidos de ajuda alimentar aumentam com a chegada destes imigrantes, que não conseguem arranjar emprego assim que chegam.

Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Angola, França, Brasil, Moçambique e Venezuela foram os principais países de nascimento dos imigrantes que Portugal acolheu e mais de um terço nasceram num dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

Preocupação com a saúde alimentar dos portugueses

O Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF 2015-2016) realizado pela Direção-Geral de Saúde, conclui que os portugueses não levam um estilo de vida saudável a nível alimentar, o que preocupa os profissionais de saúde.

“Ao comparar o consumo alimentar estimado pelo IAN-AF 2015-2016 para a população portuguesa com as recomendações preconizadas pela Roda dos Alimentos Portuguesa, é possível concluir que o consumo de ‘Fruta’ e ‘Hortícolas’ se encontra abaixo dos valores recomendados (13% vs 20% e 14% vs 23%, respetivamente) e que, pelo contrário, o consumo de “Carne, pescado e ovos” encontra-se acima dos valores recomendados (17% vs 5%).”

As pessoas optam por comprar alimentos de marcas brancas por serem ofertas mais baratas. A presidente da Cáritas, Rita Valadas, demonstra especial preocupação com as escolhas dos portugueses: “como os legumes são caros, as pessoas optam por não comprar para poupar e, aí, perdem qualidade alimentar, o que é complicado para quem tem problemas de saúde.”

“Relativamente ao consumo de fruta e hortícolas, 53% da população portuguesa não cumpre as recomendações preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para um consumo diário de pelo menos 400 g/dia de fruta e produtos hortícolas. Estes números são mais preocupantes para os grupos mais jovens da população, sendo que esta recomendação não é atingida por 69% das crianças e 66% dos adolescentes portugueses”, refere o estudo realizado pela DGS.

Por: Ana Fernandes e Carolina Piedade

Posted by Carolina Piedade

Estudante da pós-graduação em jornalismo pelo ISCTE/Media Capital