Baixa taxa de natalidade? Lider do PiS, na Polónia acha que a culpa é de as mulheres beberem álcool.

Jaroslaw Kaczynski, atibui a baixa taxa de natalidade do país ao facto de, até aos 25 anos, as jovens beberem a mesma quantidade de álcool que os seus parceiros.

O presidente do partido no poder da Polónia culpa “as raparigas e jovens mulheres” até aos 25 anos que “bebem o mesmo que os seus parceiros” pela baixa taxa de natalidade no país. Acrescenta ainda que as mulheres “tornam-se alcoólicas” em apenas 2 anos, os homens “em 20” e só após “beber muito” durante esses anos.

A taxa de natalidade da Polónia teve um decréscimo nunca antes visto, como constatou o site Notes From Poland. Na União Europeia, segundo o mesmo site, o país tem uma das mais baixas taxas (de 1,44 por mulher).

Jaroslaw Kaczynski, que se diz um sincero apoiante da igualdade entre mulheres e homens”, não apoia que as “mulheres queiram ser homens e que os homens finjam ser mulheres”.

O Líder partidário continua a argumentação citando um médico com quem afirma ter falado e que lhe revelou que teria conseguido tratar um terço dos homens alcoólicos que acompanhou, mas nenhuma mulher.

As declarações do líder partidário geraram polémica e angariaram várias críticas, tanto pela veracidade das suas afirmações como pelo simples facto de reduzir “o papel da mulher ao de uma incubadora”, como afirmou o partido Lewica.

Foram inúmeros os posts que surgiram em todas as redes sociais após as declarações de Kaczynski, destacando-se Anna Lewandowska, mulher do jogador de futebol Robert Lewandowski, que ficou “furiosa quando vejo políticos a acusar injustamente as mulheres em vez de verem os verdadeiros problemas.”

Vários foram os posts que enumeraram tantas outras cuasas que podem levar à baixa taxa de natalidade do país e até à infertilidade- como o stress ou problemas hormonais. “Não vamos julgar as mulheres que lutam silenciosamente com todas as forças para verem as duas linhas num testes de gravidez.”

Para além dos posts, também os críticos do Governo vêm dizer que o próprio executivo tem desencorajado as mulheres de terem filhos, dada a proibição quase total do aborto, o que deixa as grávidas sujeitas a perigos se a continuação da gravidez for um risco para a sua vida e a intervenção não for autorizada.

Mas, afinal, quem tem razão? Serão os argumentos de Jaroslaw Kaczynski fundados?

A infertilidade é definida pela incapacidade de engravidar. Estima-se que cerca de 15% dos casais em todo o mundo tem dificuldade em engravidar, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
Segundo a OMS, a infertilidade feminina contribui para 35% dos casos totais, afetando 80 milhões de mulheres no mundo.
Cerca de 30% dos casos estão relacionados unicamente com os homens, 20% estão associados a casais, mulheres e homens em conjunto. Os restantes 15% são ainda de origem indefinida.

 De que forma estará, efetivamente, o álcool ligado à baixa taxa de natalidade da Polónia? 

Umas das hipóteses associadas à infertilidade está relacionada com a elevada concentração de hormonas produzidas pelo próprio corpo – hormonas endógenas. Estas têm um impacto direto na maturação do óvulo, na própria ovulação e no desenvolvimento embrionário.

Um estudo realizado na Dinamarca entre 2008 e 2016, concluiu que o consumo de menos de 14 porções de álcool por semana parece não ter efeito perceptível na fertilidade.

No entanto, o consumo excessivo de álcool está associado ao aumento das concentrações de estrogénio, o que reduz a secreção da hormona que tem como função libertar o óvulo durante o ciclo.

Para além disso, a ingestão de álcool pode afetar diferentes fases do ciclo menstrual, como a fecundidade, caracterizada como a fase de maior probabilidade de engravidar durante o ciclo.

O estudo dinamarquês comprova que a ingestão de álcool pesada, com mais de 6 doses semanais, na fase luteínica (período entre a ovulação e a menstruação) e na fase ovulatória, está associada a baixas probabilidades de gravidez.

 Assim, o consumo de álcool a nível excessivo (ou até mesmo crónico), pode, sim, estar associado à redução da fertilidade feminina e ao desenvolvimento de distúrbios menstruais.

A infertilidade só acontece nas mulheres?

Segundo a OMS, cerca de 30% dos casos de infertilidade estão relacionados unicamente com os homens, 20% estão associados a casais, mulheres e homens em conjunto. Os restantes 15% são ainda de origem indefinida.

A infertilidade masculina é caracterizada como um síndrome multifatorial que pode estar associado a várias causas como mutações genéticas, doenças neurológicas, também o tabagismo e o uso de drogas ilícitas

O uso excessivo de álcool é também um dos fatores que podem influenciar a fertilidade dos homens.

É importante ressaltar que as anormalidades genéticas têm vindo a ser reconhecidas como principal causa da infertilidade masculina e que, na maioria dos casos dos homens que procuram ajuda em clínicas de infertilidade, estes acabam por ser portadores de problemas na produção do esperma.

Mais informações aqui.

O consumo de álcool também afeta a fertilidade masculina.

A professora Tina Kold Jensen, da University of Southern Denmark, divulgou um estudo realizado com homens jovens e saudáveis onde avalia a fundo o consumo de álcool e o impacto que pode gerar na procriação.

Foram avaliados mais de 1.200 homens entre os 18 e os 28 anos e, cerca de 60% afirmou ter abusado do álcool mais de duas vezes no mês anterior. Em média, cada entrevistado ingeriu 11 latas de cerveja na semana anterior aos exames.

Segundo o estudo, o consumo de álcool da semana anterior ao exame revelou mudanças importantes nas hormonas reprodutivas, verificando-se um aumento dos níveis de testosterona e diminuição de hormonas reprodutivas.

No grupo, quanto maior foi o consumo de bebidas alcoólicos, menor é a qualidade do esperma. Aqueles que ingeriram 40 latas de cerveja durante uma semana obtiveram uma contagem de esperma reduzida em 33% e uma queda de 51% na qualidade do mesmo- quando comprados àqueles que consumiram entre uma e cinco unidades.

“A nossa pesquisa mostrou uma queda de mais de metade do número de espermatozoides produzidos, assim como uma diminuição importante na percentagem de espermatozoides normais, de 4,6% para 2,7%.

Tina Kold Jensen

Posted by Renata Andrade